Fabulosa, essa gente criativa que inventa o seu próprio emprego. Fabulosa inclusive no sentido de quem faz de sua vida uma fábula exemplar para contar aos netos.
O cartunista Eduardo Moreira é um desses abençoados. Num tempo em que desenhava até manual de instruções para sobreviver, ele arquitetou um pequeno quiosque num grande Shopping Estação para caricaturar os passantes. Certo dia, uma moça muito simpática se abancou no quiosque para Eduardo traçar o seu retrato. Conversa vai, conversa vem, passou a ideia de fazer um quiosque de caricaturas num grande transatlântico:
– Não existe caricaturista em navio nenhum do mundo! Posso levar sua proposta em frente! – a retratada respondeu.
Poucas semanas depois o cartunista estava sendo entrevistado na empresa para a qual trabalha desde 2008. Em três minutos fez a caricatura do diretor e em três dias já estava em treinamento no exterior.
Ao inventar o seu próprio emprego, agora ele é um cartunista contratado pela empresa marítima Pullmantur Cruises para fazer caricaturas dos passageiros, entreter as crianças, participar de recepções e shows de bordo, ilustrar audiovisuais de instruções, um artista multimídia com direito a comida boa, roupa lavada, camarote com vista para o mar e o salário em euros.
Eduardo Moreira nasceu em Maringá, em 1971, hoje curitibano desde o primeiro ano de vida.
Estudou administração e contabilidade, mas desde os 14 anos já trabalhava em ateliês de artistas e cartunistas como Cláudio Seto, TakoX, Angelo D’Esperandio, além de desenhar para os jornais locais. No ano 2000 também colaborou com um grupo de artistas no desenvolvimento do personagem “O Gralha”, com roteiros e desenhos dessa história em quadrinhos que marcou época na cena curitibana. Com participações no teatro e no cinema, acabou fazendo uma adaptação do personagem “O Gralha” para um filme que em 2002 ganhou, no Festival de Cinema de Curitiba, o prêmio de melhor filme pela escolha do público e, em seguida, participou de diversos festivais de cinema da América Latina.
Agora desempenhando seus múltiplos talentos em três idiomas, Eduardo vive o sonho de trabalhar numa trupe que trocou a lona do circo por um palácio flutuante. Depois de morar um tempo em Barcelona, agora tem endereço fixo nos Sete Mares, desenhando suas caricaturas numa rotina diária que começa às 20 horas e vai até a meia-noite. Quando ancorado, sempre tem um bom tempo para conhecer mais de perto os mistérios dos maiores portos do mundo. Do Caribe ao Mar do Norte, do Mediterrâneo aos Mares do Sul – na rota da Argentina, Uruguai e Brasil, para passar suas férias em Curitiba com a família.
Quando tinha a idade de seu único filho, hoje com 17 anos, os seus pais sempre eram chamados pelos professores para dar um basta à sua mania de desenhar nos cadernos escolares:
– Edu, esses bonequinhos não vão levar você a lugar nenhum!
– Edu, esses bonequinhos não vão levar você a lugar nenhum!
Dante Mendonça - Crônicas sobre a cidade - 25/02/2015
http://www.tribunapr.com.br/blogs/dante-mendonca/artista-dos-sete-mares/
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